Um assunto, sempre polêmico e bastante comum entre grupos de mulheres que se encontram na perimenopausa ou menopausa, é a reposição hormonal. Muito mais do que somente pensar em quem necessita fazer uso de hormônios ou quando se deve iniciar esse processo, está a questão sobre qual a melhor via de introdução dos mesmos: oral ou transdérmica? Este artigo esclarece essas dúvidas e algumas outras questões referentes a esse período tão delicado da saúde íntima feminina.
Perimenopausa e Menopausa
A perimenopausa é a fase de transição que antecede a menopausa, marcada por flutuações hormonais significativas, principalmente na produção de estrogênio e progesterona. Nesse período, os ovários começam a falhar de forma irregular, levando a ciclos menstruais desregulados, sintomas como ondas de calor, alterações de humor, insônia e ressecamento vaginal. Essas oscilações hormonais também podem afetar o metabolismo, aumentando a tendência ao ganho de peso, e impactar a saúde óssea e cardiovascular devido à diminuição progressiva da proteção estrogênica.
A menopausa, por sua vez, é definida após 12 meses consecutivos sem menstruação, marcando o fim da vida reprodutiva da mulher. Nessa fase, os níveis de estrogênio caem drasticamente, enquanto o FSH (hormônio folículo-estimulante) se eleva, refletindo a falência ovariana. A redução hormonal contínua pode intensificar sintomas como secura vaginal, perda de libido, enfraquecimento da pele e dos cabelos, além de aumentar o risco de osteoporose e doenças cardiovasculares. A reposição hormonal – seja por via oral seja por via transdérmica – e mudanças no estilo de vida são estratégias fundamentais para minimizar esses efeitos e melhorar a qualidade de vida.
Entendendo a terapia de reposição hormonal
A terapia de reposição hormonal (TRH) é amplamente utilizada para aliviar os sintomas da menopausa, como ondas de calor, sudorese noturna, secura vaginal e alterações de humor, além de ajudar na prevenção da osteoporose. No entanto, uma das principais decisões ao iniciar o tratamento é escolher entre a administração oral ou transdérmica (adesivos ou géis).
Cada método tem vantagens e desvantagens, e a escolha deve ser, principalmente, individualizada. Cada paciente é única! As necessidades variam de mulher para mulher! O que pode servir para uma pode não ser o adequado para outra. Normalmente, durante a consulta médica, são considerados fatores como suas queixas, as medicações utilizadas, o histórico médico pessoal e familiar (especialmente ginecológico), o que ela precisa repor, seu ritmo de vida, a comodidade no uso de uma ou outra forma de reposição, seu perfil de risco e sua resposta terapêutica.
O que vale destacar é que se a RH for iniciada na perimenopausa ou nos primeiros 10 anos após a menopausa, certamente a mulher terá uma qualidade de vida melhor, com diminuição significativa dos sintomas e com poucos riscos associados.
E os riscos da reposição hormonal?
Entre os receios femininos, quanto ao uso de reposição hormonal, estão os eventos tromboembólicos, como a embolia pulmonar e a trombose venosa profunda. Entretanto, é possível testar a propensão da mulher para isso de maneira descomplicada.
Se a mulher já fez uso de pílulas anticoncepcionais por longo tempo; se ela passou por gestação, pós-parto e puerpério; teve fratura de ossos e, quem sabe tenha feito cirurgia em razão disso, dificilmente terá problema quanto à reposição hormonal porque já “testou”, de certa maneira, esses eventos tromboembólicos em algum momento da sua vida.
Isso quer dizer que quem nunca passou por esses eventos não terá problema com a reposição? Não é bem assim, as possibilidades são muito baixas, mas não impossíveis. E quanto ao histórico de trombose na família, por exemplo? Neste caso, existem outros testes que podem ser feitos, inclusive exame de sangue (fator V Leiden – FVL). Porém, não há contraindicação de RH devido à história familiar da paciente.
Reposição hormonal oral – quando é indicada?
A via oral é a forma mais tradicional de administração de hormônios, geralmente combinando estrogênio e progesterona – ou apenas o primeiro para algumas mulheres. Quanto ao risco de seu uso, ele é de 1 em cada 1000 mulheres.
Vantagens:
- Praticidade para uso: bastante conveniente, pois consiste em tomar um comprimido por dia;
- Custo: geralmente mais acessível que as formulações transdérmicas;
- Disponibilidade: amplamente disponível em diferentes dosagens e combinações.
Desvantagens:
- Efeito de passagem no fígado: o hormônio ingerido passa duas vezes pelo fígado antes de entrar na circulação sanguínea, o que pode aumentar a produção de proteínas hepáticas (como a SHBG), reduzindo a biodisponibilidade do hormônio, elevar o risco de trombose venosa e eventos cardiovasculares devido à ativação da coagulação e alterar o metabolismo lipídico (aumento de triglicerídeos);
- Flutuações hormonais: picos e quedas nos níveis hormonais podem ocorrer, causando variações nos sintomas;
- Irritação gástrica: algumas mulheres podem ter desconforto gastrointestinal;
- Dificuldade para fracionar a dosagem : o formato, geralmente em comprimido, nem sempre proporciona o fracionamento da dosagem necessária para a paciente.
Reposição Hormonal Transdérmica
Nos últimos anos, tivemos um aumento significativo na administração transdérmica que ocorre por meio de adesivos ou géis aplicados na pele, liberando hormônios diretamente na corrente sanguínea. Certamente, é a forma mais popular de uso! No caso desse tipo de reposição hormonal, o risco de ocorrerem eventos tromboembólicos é bem menor do que o feito por via oral: 2 em cada 2000 mulheres. Que é o mesmo risco da população em geral, isto é, o mesmo risco de não usar nada de hormônios.
Vantagens:
- Absorção mais estável: os hormônios são liberados continuamente, evitando flutuações bruscas;
- Dosagem melhor fracionada: a dosagem do gel, por exemplo, é feita por dosador pump, já os adesivos são divididos em 4 doses que serão indicadas conforme o caso da paciente;
- Evita o metabolismo hepático: como passa apenas 1 vez pelo fígado, há menor risco de trombose, hipertensão e alterações lipídicas;
- Melhor para mulheres com risco cardiovascular: indicado para pacientes com histórico de trombose, obesidade ou resistência à insulina;
- Menor impacto no metabolismo: não interfere tanto na produção de SHBG – uma proteína produzida principalmente no fígado – e em outros marcadores hepáticos.
Desvantagens:
- Irritação cutânea: algumas mulheres podem desenvolver dermatite ou alergia no local de aplicação;
- Custo: geralmente mais caro que os comprimidos;
- Variabilidade na absorção: dificuldade de controlar a dosagem e, além disso, fatores como suor, umidade e tipo de pele podem afetar a eficácia da aplicação;
- Inconveniência: necessidade de trocar adesivos regularmente ou aplicar géis diariamente. A longo prazo, nem todas as mulheres se adaptam ao uso.
Qual é a melhor opção? Reposição oral ou transdérmica?
A escolha entre a reposição oral e transdérmica depende de vários fatores.
- Quando a via oral pode ser preferível:
- Mulheres sem fatores de risco cardiovascular;
- Pacientes que preferem a comodidade de um comprimido;
- Casos em que o custo é uma barreira importante.
- Quando a via transdérmica é mais indicada:
- Mulheres com histórico de trombose, doença hepática ou risco cardiovascular aumentado.
- Pacientes com resistência à insulina ou síndrome metabólica.
- Mulheres que não toleram os efeitos gastrointestinais dos comprimidos.
Ambas as formas de reposição hormonal são eficazes, mas a transdérmica tende a ser mais segura para mulheres com risco cardiovascular, enquanto a oral pode ser mais prática e econômica para outras. A decisão deve ser tomada em conjunto com a médica, considerando o histórico clínico, preferências da paciente e resposta ao tratamento. Estudos recentes reforçam que a individualização é a chave para o sucesso da TRH, minimizando riscos e maximizando benefícios!
Conheça a Dra. Júlia Azevedo
A Dra. Júlia Azevedo é ginecologista e obstetra, com vasta experiência em climatério, menopausa e uroginecologia, formada pela UFRGS.
Com especializações em saúde feminina, ginecologia esportiva e estética íntima, ela oferece cuidados completos e personalizados para mulheres em todas as fases da vida. Seu foco está em proporcionar tratamentos modernos e eficazes, sempre com um atendimento acolhedor e humanizado.
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